sábado, novembro 27, 2010

Na noite nem todos os gatos são pardos Notas sobre a prostituição travesti Larissa Pelúcio

Nos territórios da prostituição elas namoram, encontram e fazem amigas, compram roupas, aprendem técnicas corporais importantes, além, é claro, de ganhar seu “aqué”.
Na análise sensível de Benedetti (BENEDETTI, M. A batalha do corpo: breves reflexões sobre travestis e
prostituição. www.ciudadaniasexual.org/boletin/b11/ consulta em 02/05/2005)
É na convivência nos territórios de prostituição que as
travestis incorporam os valores e formas do feminino,
tomam conhecimento dos truques e técnicas do cotidiano
da prostituição, conformam gostos e preferências
(especialmente os sexuais) e muitas vezes ganham ou
adotam um nome feminino. Este é um dos importantes
espaços onde as travestis constroem-se corporal, subjetiva e
socialmente.
Na pele, na carne, na alma
“Ser travestis” é um processo, nunca se encerra. Construir um corpo e cuidá-lo é uma das maiores preocupações das travestis. Elas estão sempre buscando a “perfeição”, o que significa “passar por mulher”, uma mulher bonita e desejável, geralmente “branca” e burguesa. Em busca dessa imagem afinam
seus traços, bronzeiam seus corpos, adornam-se com roupas de remetem a mulheres glamourosas, escolhem nomes de atrizes emusas hollywoodianas ou cantoras pops, submetendo-se às normas estabelecidas.

Se “ser travesti” é algo continuado e sem fim, este processo pode ser dividido em algumas etapas. A primeira delas é quando ainda se é “gayzinho” (classificação êmica), ou seja, já assumiu a orientação sexual para familiares e para “a sociedade” (como elas dizem, para um conjunto mais abrangente de pessoas), mas ainda
não se vestem com roupas femininas ou ingerem hormônios.
A fase seguinte é “montar-se”, que significa, no vocabulário próprio do universo homossexual masculino, vestir-se com roupas femininas, maquiar-se de forma a esconder a marca da barba, ressaltar maçãs do rosto, evidenciar cílios, as pálpebras dos olhos e a boca. Nessa etapa, vestir-se com roupas femininas ainda é
algo ocasional, furtivo, restrito a momentos de lazer.

O terceiro momento é o da “transformação”, uma fase mais nuançada, pois tanto pode envolver apenas depilação dos pêlos do corpo e vestirse cada vez mais freqüentemente como mulher, como pode
indicar o momento inicial de ingestão de hormônios, quando estes ainda não mostraram efeitos perceptíveis; finalmente, a quarta etapa, quando já se é travesti, além do consumo de hormônios, vestem-se todo o tempo com roupas femininas (sobretudo roupas íntimas, pode estar de shorts, sem camisa, mas de calcinha) e
planeja injetar silicone nos quadris e nádegas.
A transformação seria esse processo de feminilização que se inicia com extração de pêlos da barba, pernas e braços, afina a sobrancelha, deixa o cabelo crescer e passa a usar maquiagem e roupas consideradas femininas nas atividades fora do mundo da casa. A seguir, começam a ingestão de hormônios femininos
(pílulas e injeções anticoncepcionais e/ou de reposição hormonal), passando por aplicações de silicone líquido nos quadris e, posteriormente, nos seios, até chegar (e nem todas podem fazê-lo por absoluta falta de dinheiro) a intervenções cirúrgicas mais radicais – plástica do nariz, eliminação do pomo-de-adão, redução
da testa, preenchimento das maçãs do rosto e colocação de prótese de silicone.

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